Text made for the event Listos para leer, promoted by DDI (Sociedad Estatal para el Desarrollo del Diseño y Innovación), presented during a round table in Madrid, Spain, in june 2007
De los libros…
Belo ou útil?
Primeiro tenho que dizer que a pergunta é capciosa, porque nos impele(incita) a definir o que é útil e o que é belo e isto compõe todo um universo de reflexões e definições muito polêmicas.
Pode, por exemplo, me remeter à questão clássica da forma-função. Creio que hoje em dia o grande paradigma se dá na relação entre forma e conteúdo, e não entre a forma e a função. Não é mais a ergonomia, por exemplo, que conta quando definimos o formato de um livro. O livro pode ter um formato esquisito se este formato for importante para dar significado a ele como objeto. Digamos, um livro muito vertical para falar de nova york, denotando a sua verticalidade, só para mencionar um exemplo bem simples. Onde está o belo e onde está o útil?
Curiosamente, há algumas semanas, quando eu voltava de acompanhar uma impressão em gráfica encontrei uma afirmação conhecida, popular, pintada na carroceria de um caminhão, que dizia: Não julgue o livro pela capa,nem o homem pela profissão.
Isso me serve como ponto de partida para a reflexão sobre o design de livros e sobre o que é apenas aparência e o que é significado. Todos ouvimos desde crianças que as aparências enganam, bem como já vivemos experiências que nos confirmaram essa afirmação, apesar de que nem sempre isso é verdade. Além do mais, vivemos em uma época bastante visual e a maneira com a qual as pessoas se vestem, os gestos, o linguajar nos dizem muito. Claro que também julgamos pelas aparências!
Como designers devemos ter discernimento para “vestir a roupa adequada” ao que estamos desenhando, e também para agir mais profundamente, não apenas dando apoio ao conteúdo. Nossa responsabilidade, no meu entender, não é em primeira instância a de corresponder aos códigos de mercado, mas de inovar, de também construir o conteúdo. Por sinal, nunca me apresentaram esse tal de mercado. Desenhamos para alguém, não para uma entidade abstrata.
Já vi ótimos resultados visuais completamente inadequados para o assunto ao qual se destinavam como, por exemplo, um livro sobre o carnaval brasileiro, que é uma festa de cunho altamente popular, com a aparência de um livro sobre cultura urbana digital, cheio de gadgets e modismos. E o propósito era o de desenhar um livro belo, e não de fazer um comentário perturbador.
Apesar de um mal desenho poder atrapalhar a comunicação, o livro do sec XXI sempre poderá ser ou não belo e útil, independentemente de seu desenho. Temos vários livros feios em nossa entantes, porque eles foram e são importantes em nossa vidas. O livro será tanto belo como útil quando puder estabelecer um relacionamento verdadeiro com o leitor. E relacionamento é tudo que pode ser transformador, senão não é relacionamento.
José Luiz Tejon Megido, professor de pós graduação da ESPM, afirma (em “O livro da gráfica” de Claudio Ferlauto e Heloisa Jahn) que “O livro é a casa mais real e fecunda do alfabeto. No livro explode a força criativa e multiplicadora dos homens.”
Há certas coisas que, uma vez inventadas, não podem ser desinventadas. O garfo, a colher, o copo….Exemplos bem simples de ferramentas eternas. O livro é um desses inventos.
Um país se faz com homens e livros – Monteiro Lobato