text published for the Icograda Design Week in Havana, Cuba, 2007
Design no Brasil hoje
Nestes últimos anos o Brasil, como o restante da América Latina, passou por mudanças políticas importantes que balançaram algumas estruturas arcaicas, propondo outras direções para seu futuro.
Algumas expectativas em relação às mudanças foram frustradas, pois a conjuntura socio-política não depende
apenas de quem foi eleito, mas de uma série de outras forças dominantes. As transformações demoram a se consolidar; passamos por tentativas, erros e acertos.
O principal sintoma dessa transformação, e que se manifesta em diversas áreas produtivas, é a mudança de foco referencial. Antes a região era, a grosso modo, vista como periferia subdesenvolvida, e assumia esta identidade
num claro complexo de inferioridade, imitando fórmulas dos centros ditos desenvolvidos. Hoje em dia se redescobre como fonte de alternativas de desenvolvimento, já que o modelo que foi seguido até agora se mostra globalmente decepcionante. E este olhar parece ser compartilhado mundialmente: o Novo Mundo ainda tem terras férteis, no sentido concreto e figurativo, e ainda pode oferecer alternativas de desenvolvimento sustentável, num sentido bastante amplo.
Nossas raízes culturais, em toda a sua incoerência e complexidade, estão sendo mais valorizadas. O atual Ministério da Cultura do Brasil, por exemplo, incluiu oficialmente em sua política de atuação, minorias que antes eram excluídas da categoria de produtores culturais, como os indígenas e os quilombolas.
No campo social existem iniciativas importantes dedicadas à educação, saúde, saneamento, comandadas pela sociedade civil, não só no Brasil, bem como em toda a América Latina. Estamos acordando tardiamente para o absurdo de ter pessoas morrendo de fome, enquanto o mundo produz mais do que come.
No âmbito econômico, a indústria rapidamente se moderniza e são feitos muitos investimentos em desenvolvimento de know-how tecnológico.
E é neste panorama que o design floresce, algumas vezes como equivocada manifestação fashion, efêmera, mas cada vez mais também com um enfoque democrático. Democrático no sentido de perceber as próprias necessidades locais, de seu povo, abrindo espaço para a auto determinação.
O governo brasileiro instituiu em 1995 o Programa Brasileiro de Design, que tem como missão induzir à Modernidade Industrial e Tecnológica por meio do design, visando contribuir para o incremento da qualidade e da competitividade dos bens e serviços produzidos no Brasil e sua popularização. O programa busca motivar os empresários e engajá-los ao objetivo maior de inserir o design no sistema produtivo, destina-se a promover o desenvolvimento do design brasileiro, capitalizando a vantagem de ser o Brasil um país de identidade forte e criativa, apto a desenvolver a
marca Brasil no competitivo mercado internacional.
Existem algumas associações de design de caráter nacional e regional, porém a consolidação de uma rede nacional que se relacione solidamente com o governo federal ainda é remota e os efeitos das políticas de incentivo ainda são fracos. A profissão de designer continua pouco conhecida em sua real dimensão, fora da glamourização das grifes e o design é muitas vezes visto como artigo de luxo. Apesar dessa situação, há vários projetos sociais, onde o design ocupa um espaço importante, seja buscando soluções de moradia, como capacitando comunidades para o desenvolvimento e a comercialização de seus próprios produtos.
Em 2006, aconteceu a I Bienal Brasileira de Design (Comunicação Visual e Produto), como resultado de uma realização conjunta do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e do Movimento Brasil Competitivo (MBC). A ADG/Brasil (Associação dos Designers Gráficos) tem um papel importante na área da Comunicação Visual e já realiza sua Bienal de Design Gráfico, de caráter nacional, desde 1992.
O ensino nesta área, por sua vez, percebe o impacto das transformações e passa por questionamentos e tentativas de reformulação, considerando nossa realidade, cheia de questões inquietantes e controversas, que nós mesmos não conseguimos definir nem compreender em sua totalidade.
A Bienal Ibero-americana vem de encontro à necessidade de aglutinar, articular e difundir idéias, políticas públicas, e práticas no campo do design e comunicação visual que possam mostrar-nos caminhos alternativos de desenvolvimento nessa área, enxergando o mundo sob outros pontos de vista, que não o que sempre nos foi ensinado.
Ruth Klotzel, novembro 2007